A queda, além de muita dor, me rendeu uma batida na bacia, ferimento no tornozelo e uma fratura na mão esquerda. Além de cuspir no piso de casa, de tanta dor que senti nesse tombo de costas limpas no chão, pude comprovar duas grandes coisas: é fácil se dar mal e tenho mais sorte que juízo.
Na volta do hospital, tomado pela fome devastadora, iniciei a odisséia de uma vida maneta. Se adaptar à tarefas simples é mais complicado do que eu imaginava. Um ossinho chamado escafóide conseguiu transformar minha vida num relato de gafes e incapacidades.
Digitar essa postagem, comer (arroz é medalha de ouro no drama da alimentação), tomar banho, limpar a bunda, escovar os dentes, amarrar os cadarços e outras tarefas ordinárias se tornaram um verdadeiro caso de superação pessoal.
Numa virada brusca, comecei a ver o quanto pequenas coisas que não damos valor ou sequer sabemos que existem em nosso corpo, podem tornar a vida bastante difícil. Isso me fez despertar grato dia após dia, pelo corpo perfeito que tenho (em funcionamento, gente, que fiquer claro, pois a consciência das pernas finas e do nariz avantajado ainda habita esse ser) e pela oportunidade que tive de não me meter numa encrenca maior. Nesse período de, mais ou menos, dois meses de gesso, me afastei das operações culinárias, mas ganhei vários convites de jantares, com direito a vinho e carona. Além de bancar o convidado, me tornei um palpiteiro de mão cheia (aguardem a leva de trocadilhos infames como esse!) e acabei abrindo alas à novas e deliciosas experiências.
Abaixo, o registro fotográfico da paródia de mim mesmo.

Desenvolver novas técnicas para as velhas tarefas é uma maneira digna de não enlouquecer. Palmas, só na versão surdo-mudo ou batendo no peito. Imagine todo o resto!