quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Francês de olhos puxados

Essa temporada sem escrever aqui no blog me trouxe uma série de inquietações. Muitas fruto da impossibilidade de habilidade e tempo pra colocar determinadas criaturas no mundo. Mesmo sem escrever, não parei de me aventurar pelo universo da gastronomia. Sem colocar a mão na massa, em função de não conseguir executar tarefas básicas, como cortar um tomate ou descarcar alhos, mas com o apetite e a curiosidade de sempre acentuados. Mais do que nunca, passei a encarar a comida como uma compensação das merdas da vida. Mesmo dentro de uma ótica positiva, merda é merda. Aprendemos com os tropeços, nos tornamos pessoas melhores, mas os calos não deixam de doer por isso.

Nessa temporada de busca por compensações, acabei sendo levado por duas amigas a um restaurante super charmoso, lá na Vila Madalena, o Les Delices de Maya. Segundo elas, eu precisava conhecer o tal lugar e experimentar uma massa super especial preparada pela Maya, chef e dona daquele cantinho charmoso. Como se trata de um prato que ela prepara quando dá na telha, pelo que pude entender, acabamos dando sorte em chegar lá e ser o dia do macarrão cozido em algas com gengibre e farofa de gergelim. Estranho e delicioso, na mesma proporção. A versão original vem acompanhada de camarões, mas pedi que a chef fizesse uma versão vegetariana pra mim. A adaptação foi digna de sucesso de bilheteria.

Quando o prato chegou, vivi o que há anos não acontecia: experimentar algo novo, tão longe das suas referências, que você mal sabe como reagir. É quase como uma criança descobrindo o mundo e tendo espasmos de admiração. As garfadas vieram acompanhadas de felicidade e resmungos de prazer. No final do prato, fui obrigado a jogar fora minha elegância e pedir que me servisse mais uma porção.

Além do prato delicioso, fomos atendidos de maneira especial e carinhosa, com direito a dicas de livros e histórias de vida.

Finalizamos o almoço com uma rodada de sobremesas: cheesecake com calda de frutas vermelhas pra mim, pudim de leite pra Ci e bolo de chocolate sem farinha pra Andrea. Claro, as sobremesas passaram pela boca de todos, pois é inaceitável enfrentar tantos sabores maravilhosos sem compartilhar com quem divide a mesa com você. Ainda mais quando falamos de doces!

Esse cantinho merece ser descoberto. Vá até a Morato Coelho, 1044. Além de ter uma refeição incrível, aproveite para levar as caldas e molhos especiais para salada que a chef Maya Midori prepara. Eu levei um molho de framboesas com azeite e balsâmico que quase transcendeu minha relação com as folhas verdes.

Andrea e Ci, muito obrigado pela descoberta!



















Nessa aventura, descobri John Fante.
Ouça "Crazy", na versão da Norah Jones depois de ler essa postagem.
A imagem daqui é uma composição que fiz a partir de uma foto que achei na internet. Não sei pra quem dar os créditos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sobrevivendo com uma mão

Aos 29 anos, debutei minha primeira fratura. Num pulo exagerado e desmedido, levei um dos maiores e mais ridículos tombos da minha vida, resultado de uma voadora mal sucedida que tentei (essa palavra merece grifo) dar na minha amiga, parceira de moradia e de kung fu. Sim, a tão citada Vanessa!
A queda, além de muita dor, me rendeu uma batida na bacia, ferimento no tornozelo e uma fratura na mão esquerda. Além de cuspir no piso de casa, de tanta dor que senti nesse tombo de costas limpas no chão, pude comprovar duas grandes coisas: é fácil se dar mal e tenho mais sorte que juízo.

Na volta do hospital, tomado pela fome devastadora, iniciei a odisséia de uma vida maneta. Se adaptar à tarefas simples é mais complicado do que eu imaginava. Um ossinho chamado escafóide conseguiu transformar minha vida num relato de gafes e incapacidades.

Digitar essa postagem, comer (arroz é medalha de ouro no drama da alimentação), tomar banho, limpar a bunda, escovar os dentes, amarrar os cadarços e outras tarefas ordinárias se tornaram um verdadeiro caso de superação pessoal. 

Numa virada brusca, comecei a ver o quanto pequenas coisas que não damos valor ou sequer sabemos que existem em nosso corpo, podem tornar a vida bastante difícil. Isso me fez despertar grato dia após dia, pelo corpo perfeito que tenho (em funcionamento, gente, que fiquer claro, pois a consciência das pernas finas e do nariz avantajado ainda habita esse ser) e pela oportunidade que tive de não me meter numa encrenca maior. Nesse período de, mais ou menos, dois meses de gesso, me afastei das operações culinárias, mas ganhei vários convites de jantares, com direito a vinho e carona. Além de bancar o convidado, me tornei um palpiteiro de mão cheia (aguardem a leva de trocadilhos infames como esse!) e acabei abrindo alas à novas e deliciosas experiências.

Abaixo, o registro fotográfico da paródia de mim mesmo.





Desenvolver novas técnicas para as velhas tarefas é uma maneira digna de não enlouquecer. Palmas, só na versão surdo-mudo ou batendo no peito. Imagine todo o resto!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sem comentários

Minha gente, esse assunto sempre foi uma perturbação na minha vida. Até que enfim, algum ser dotado de paciência e perseverança fotografou uma série de produtos e suas respectivas embalagens e fez esse comparativo maravilhoso em registro ao horror gastronômico configurado por essas potências do "bom gosto". Olhem o excremento culinário e se identifiquem com a frustração de cada embalagem de comida industrializada que você já abriu na vida.































Miséria de paladar e photoshop enganando a boca do povo!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sal pra toda obra


Adoro amigos que viajam. Adoro amigos que contam histórias de viagem. E adoro mais ainda amigos que estendem a viagem para sua vida criando novas histórias com você. Dani Lin, uma amiga de São Paulo, do mais alto quilate, viajou há pouco tempo para Nova Iorque para curtir dias de férias com algumas amigas. Bem a la Sex and the City.

Na volta, além de muitas histórias e fotos lindas (as quais ainda se mantém em carácter teórico), ela me trouxe um presente surpreendente: um frasco com seis compartimentos recheados com diferentes tipos de sais. Sais para cozinhar!


Isso inclui
sal vermelho do Hawaí,
sal defumado,
sal de Guerande,
sal puro do oceano,
sal preto eurasiano e
sal rosa do Himalaya.
Sal a dar com pé!


Não fazia ideia que o mundo poderia nos reservar tanta variedade desse tempero indispensável. Uma viagem alucinante pra você chacoalhar e dar um toque de verve a qualquer prato.

Fiquei apaixonado pelas possibilidades que esses sais trouxeram pra minha cozinha e pela sensibilidade da minha querida amiga. Agora, devo criar vergonha na cara e oferecer um jantar em agradecimento a esse ingrediente que colocou qualquer traço de mediocridade na cozinha para viajar. E pra bem longe!



Dave's Gourmet é o fabricante do Insane Seasonings.
Ô, salzinho bom pra temperar a vida.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pode ir no Oscar Café

Morar com uma vegana não é a tarefa mais fácil do mundo, quando se é movido pela vontade de dividir a mesa com outras pessoas. Mesa de restaurante, que fique claro.
De tempos em tempos, a Vavá, uma amiga queridíssima, vem do Sul para resolver situações da vida aqui em São Paulo. Nessas movimentações, acabamos sempre nos encontrando e tendo a comida e as boas conversas como conectores dessa relação.

Como a vida é especialista em coincidências, a última vinda dela se intersectou com a visita do meu grande amigo Rike e com a disponibilidade da noite da Vane, a marida vegana. Rike e Vane são amigos de infância e eu sou um amigo que caiu de pára-quedas nessa dupla aos 15 anos de idade. Em resumo, tem muita história pra contar. O osso da noite foi juntar esse povo na mesma mesa para jantar.

Liguei para uma série de lugares e não tive muito sucesso ao desbravar os cardápios em busca de comida sem ingredientes de origem animal (premissa para ter a Vane em nossa mesa), até ligar para o Oscar Café, na Oscar Freire, 727. Fui super bem atendido e ficamos tranquilos com a flexibilidade e compreensão do lugar. Além da simpatia da atendente, tivemos a abertura total do chef em adaptar qualquer receita do menu. Sensibilidade é tudo.

Tivemos uma noite agradabilíssima, regada à fetuccinis de cogumelos para mim e o Rike, sopa de tomates com pesto de rúcula para a Vane e salmão com cuscuz marroquino para a Vavá. Pra beber: água tônica diet com gelo e limão, suco de tangerina, cerveja e suco de maçã, pêra e gengibre. Uma noite e tanto.

Dê um pulo no Oscar Café. Além de ser um lugar super charmoso, com pratos bem executados, tem uma loja no subsolo com uma série de objetos de decoração e livros. Devo confessar que o subsolo não é o foco de minha atenção, mas o restaurante é um canto a ser descoberto. Vá.


Vale a pena levar os amigos pra um papo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dois meses sem carne

Desde que saí de casa, minha alimentação passou por algumas boas mutações. Essa temporada de mudanças já tem mais de 10 anos, desde que deixei o conforto da mesa servida do pai e da mãe. Faz anos que minha alimentação é predominantemente vegetariana, mas não era totalmente livre de carne. Ainda me entregava para os mais diversos pratos com carnes de todo o tipo e mergulhava em frios no café da manhã.

Há alguns bons meses, venho reduzindo meu consumo de carne e, há menos de três meses, eliminei a carne completamente do meu cardápio. Meu paladar foi alterado pela ideologia. Na convivência com manifestações veganas, maestradas pela Vanessa - grande amiga que tem dividido o mesmo teto que eu -, acabei me sensibilizando e entendendo que podemos incorporar um novo consumo, livre de crueldade.

Comecei de maneira bastante modesta, colocando alguns princípios éticos em minhas refeições, rejeitando ingredientes como a vitela e o foie grois. O primeiro é porque acho um tanto radical comer filhotes, independente da espécie, ainda mais quando são confinados e tem sua curta vida destruída por caprichos humanos, e o segundo pelos problemas de fígado que o bicho enfrenta ao ter alimentação forçada da forma mais radical possível, com canos enfiados forçadamente no esôfago. Depois disso, comecei dando minha preferência para carnes que tivessem procedência, no sentido de garantir o bem-estar animal, no entanto, não existem normas que garantam isso, pelo menos, não que eu conheça.

Em quase três meses de alimentação vegetariana, senti resultados ótimos no corpo e pude comprovar na pele que só passa fome quem não coloca a cabeça pra funcionar. Minha vida se encheu de novas receitas e experimentos que estão garantindo uma fase feliz, leve e criativa. Se vou continuar com essa política, um pouco extrema na visão dos meus pais, eu não sei, mas estou feliz com a decisão que tomei.

Se quiser entender um pouquinho mais no que implica aquele bifinho ou o peitinho de frango que diariamente você põe no prato, assista A Carne é Fraca. Um documentário mal produzido, mas que te faz acordar para assuntos que jamais entraram em pauta na vida dos carnívoros. Assista e reflita. No mínimo, você vai reforçar sua convicção ou destruir as velhas estruturas que darão espaço à uma nova postura.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sanduíche sem nome

Ideias em dias ensolarados, de grama, de pano, comida, mato e queridos.
Café, doce de uva, suquinho. Violão do primo e do amigo, mãe do amigo, filha da outra amiga, amigas minhas agregadas e as protagonistas da novela "A colona e a nipônica". Tudo perfeito no parque.

Por um tempo antes, plano. Preliminares perfeitas, de pique-nique. Passando café, cortando legumes, mexendo batata salsa na panela, misturando limão siciliano com azeite. Das mãos da Vanessa saíram sanduíches capazes de fazer duendes se revelarem no parque pra roubar um da cesta. Ou toda a cesta. Deu tão certo que seria uma gafe tremenda não postar aqui a receita.

Sanduíche Sem Nome da Vane

O que vai?
- Purê de batata salsa (mandioquinha ou batata baroa, depende do chão que estiver pisando). Aqui você amassa a dita batata salsa cozida com um pouco do próprio caldo, azeite de oliva extra virgem e sal;
- Fatias de abobrinha sapecadas com um fio de azeite;
- Tomates maduros e frescos, em fatias também;
- Molho de azeite, alho e limão siciliano, claro, toca sal e pimenta nessa mistura;
- Pão francês. A marida sugere preto. Pão preto (obviamente vegano, nai, Vanessi?)

Como montar?
Abra o pão, passe uma generosa camada de purê, acrescente fatias da abobrinha sapecada, fatias de tomate e o tal molho de limão. Tá pronto. Fica cremoso, colorido, com texturas diferentes... tem que provar!

Gosto do jeito dela cozinhar.

Depois de muito enrolar e comer sanduíches e ficar de papo na bancada da cozinha, perdemos parte da tarde, mas pegamos um sol gostoso e ficamos cultuando o ócio junto com bons amigos. Pinotes e manifestações de yoga e kung-fu tornaram a tarde ainda mais pulsante e divertida. Adoro aqueles dias ensolarados em que estou mais empolgado que as crianças. Parece que a vida passa em outro tempo. Quando falo de outro tempo, é outro tempo mesmo. Não tem relógio, é uma tacada de nostalgia que nasce da euforia dos pulos e da comida gostosa misturada com o verde e com nome de pique-nique. Dá pra imaginar domingo melhor?

Som que retrataria a tarde.
There's too much to love, Belle and Sebastian.


terça-feira, 2 de junho de 2009

Nem tudo são flores na cozinha

Final de semana produtivo. Primeiro passo de uma caminhada idealizada há meses. Tudo programado para o primeiro ensaio fotográfico de um projeto pessoal no centro de São Paulo. Fotógrafo, maquiadoras, produtora, segurança... uma turminha pra ser alimentada. Essa história de projeto pessoal acaba te colocando no centro da função. Nessas, decidi fazer um lanchinho vegetariano praquele povo: legumes assados no forno com pão integral de cereais.


Preparei tudo, com a ajuda indispensável da Vanessa, protagonista de várias situações na minha vida. Estávamos muito entusiasmados com a apresentação dos Monges de Shaolin que aconteceria logo mais no Via Funchal.


_ Douglas, como tão os legumes?

_ Tão quase... deixamos mais um pouco e desligamos antes de sair.


Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Alerta vermelho!


Saímos tão excitados para a apresentação de kung fu que esquecemos todo o assado nas chamadas do bom e velho guerreiro de quatro bocas. A sugestão mais bem intencionada virou um monte de carvão no ventre do forno. Chegamos e o hall do andar estava tomado pelo cheiro de cebolas queimadas. Entramos correndo e vimos a grande merda que poderia ter resultado essa falta de atenção agravada por entusiasmo cego.


Minha criação católica caiu como toneladas em meus ombros ao ter que jogar um monte de comida fora. Ficou o aprendizado, o talento da Vanessa expresso nessa “obra” acarvoada e sua solidariedade em refazer o assado enquanto eu encarava a cama pra acordar às 3h30 da matina. No fim, me restou agradecer. De carvão ficaram apenas os legumes e os sanduíches da produção viraram sucesso de bilheteria.


Esse "manifesto artístico" ilustra o título e faz homenagem subjetiva à Baudelaire. Sim, as flores do mal!


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dia bom

Domingo ensolarado, primos queridos, passeio no parque e comida boa. Dêem uma olhada no que aprontamos na cozinha depois de praticar yoga no Ibirapuera, andar entre uma multidão de cachorros e donos felizes e bater um papo bom tomando sol na beira do lago.

Prato principal
Penne ao tomate e ervilha torta


Frite cebola no azeite extra virgem e coloque uns três ou quatro dentes de alho inteiros e duas folhas de louro fresco pra tostar junto. Quando estiver tudo dourado, acrescente meia beringela em cubos grandes. Se você quiser melhorar o sabor da beringela, deixe ela de molho na água com bastante sal alguns minutos antes de jogar na panela. Claro, escorra antes. Segundo as más línguas, isso evita que a beringela fique amarga. Em seguida, acrescente a ervilha torta e detone no azeite, até empapar a comida nele. A base do molho é essa. Salgue e moa pimenta verde na hora. Você determina a quantidade de acordo com teu humor. Em seguida, coloque dois tomates italianos bem maduros cortados em quatro partes com o miolo virado para baixo. Não mexa mais. Deixe tudo isso no fogo, dourando e soltando sabor. Quando os tomates estiverem levemente mais molinhos e com a base dourada, dê uma mexida e acrescente queijo parmesão ralado grosso na hora. Exagere. Eu costumo cozinhar a massa com folhas de louro, pimenta e sal grosso. Quando estiver al dente, escorra e coloque dentro da panela do molho e vá misturando gentilmente em fogo baixo. Desligue e sirva. Fica leve, colorido e super saboroso.

Sobremesa
Animando o domingão com morango e chocolate


Diagrame um prato fundo, daqueles pequenos, com a seguinte combinação:
- Sorvete de creme com crocante (apostei no Baden Baden, mas use o que mais gostar).
- Brownie com nozes (me atrevi a comprar pronto no mercado, em nome da praticidade que honraria meu domingo ocioso).
- Calda de morango com limão siciliano: bata no liquidificador uma bandeja de morangos com um limão siciliando e açúcar. 15 segundos e tá pronto. Cítrico, fresco e delicioso.
- Decore com raspas da casca do limão siciliano e cardamomo grosseiramente triturado.

Se tem algo que você vai ouvir serão os resmungos de prazer, pois essa sobremesa é um escândalo dentro da boca. Doces muito bem harmonizados com a adstringência do morango com limão e a excentricidade do cardamomo. Agora, preciso batizar essa sobremesa pra que ela passe a existir no mundo de maneira oficial. Tente fazer e deixe uma sugestão de nome.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Traços de loucura

Desde a infância, sou tomado por dias de hiperatividade. Uma verdadeira montanha russa existencial, que horas me traz a paz e a tranquilidade de um monge, horas me leva sem pára-quedas até a porta do avião.
Em dias de ansiedade e inquietação, acabo canalizando minhas energias em tarefas minimamente produtivas. Às vezes, tento me convencer de que elas têm algum fruto, em outras, consigo vê-los brilhando no topo da árvore que sou. Foi num desses dias descompromissados e agitados que acabei desenhando algumas louças aqui de casa. Cacos velhos e sem padrão ganharam o bom humor e a ironia de um traço pouco pensado, mas leve como o vento de uma manhã ensolarada. Entre bigodes, óculos e retrato do meu sobrinho, a cozinha ganhou sutilezas e sorrisos internalizados, enquanto eu, uma sensação de reinventar a vida a partir de detalhes.
Compre uma caneta para porcelana e se arrisque estragar algumas louças. Talvez você se dê conta que não é uma grande revelação no desenho, mas sem dúvida, irá relaxar e colocar um pouco de si nos pequenos atos ordinários do dia-a-dia, que passariam despercebidos pelos olhos da maioria. Libere a mão e a mente e deixe a casa ser invadida de algum bom humor.

Os novos habitantes da minha cozinha.

domingo, 3 de maio de 2009

Compotas de lamber os beiços

Feriado e comida combinam. A Vanessa e a Érica passaram a noite de quinta na minha casa. Fomos dormir cedo, mas acordamos com a corda toda pra iniciar uma jornada pelos sabores da cozinha vegana. Passamos num feirão perto de casa e enchemos um carrinho de legumes, frutas e verduras. Estávamos decididos a passar o feriado na cozinha. Preparamos um penne frito e cozido no caldo de legumes (feito artesanalmente, pra não perder o romantismo), servido com molho à base de cogumelos paris in natura e salsa. A massa deu certo, mas já descobrimos maneiras de deixá-la ainda melhor: cozinhando o caldo de legumes por mais tempo em fogo baixo. Mas, a grande atração do dia foram nossas compotas, que encheram nossa tarde de cores, experimentações e nostalgia. Dá uma olhada em algumas das receitas que aprontamos no dia do trabalho.



Pimentões ao forno
Vermelhos e amarelos. Pegue 4 de cada. Ou mais. Besunte tudo com azeite de oliva extra virgem, sal grosso, pimenta verde, tomilho fresco e um exagero de alho. Como foram muitos pimentões, tive que dividir em duas formas, o que me fez brincar um pouco mais com os sabores. Na segunda travessa, acrescentei salsa picada e saquê. Tudo pro forno. Cochilamos assistindo TV, depois de um almoço vegano pra lá de bom. Acordei e corri num susto para a cozinha ao lembrar que tinha esquecido tudo no forno. O que poderia ter virado os restos de um incêndio, se transformou em um antepasto saborosíssimo. Os pimentões tostaram e ficaram com um gosto adocicado em meio ao perfume dessa combinação deliciosa. Colocamos os pimentões em vidros de molho que sobraram de outras aventuras semi-industrializadas na cozinha e completamos com azeite de oliva extra-virgem. Foi uma extravagância de azeite. E é assim que tem que ser. Renderam dois vidros super coloridos e um foi detonado já no almoço do dia seguinte. Nada mais gostoso que se lambuzar comendo essas delícias coloridas no meio de um pão fresquinho.

Beringelas tostadas
Pegue mini beringelas e as corte ao meio. Coloque uma panela pra esquentar e toste a parte de dentro das beringelas direto na chapa quente. Depois disso, tempere essas metades tostadas com sal, pimenta verde, tomilho fresco, alho e muito azeite de oliva extra virgem. Depois de fazer uma bela massagem nessas pequenas, você as manda pro forno. Deixe lá por uns 20 ou 30 minutos. Vai no feeling. Prefiro não ditar tempos e quantidades porque acredito que a comida deva ter esse lado intuitivo funcionando durante o preparo. Assim que estiverem assadas, as acomode gentilmente em um vidro, complete com azeite extra virgem e tampe. Simples, simples, mas bom demais.

Tomatinhos cereja
Num potinho, misturei azeite extra virgem com sal, pimenta e alho. Mexi com vontade para garantir que esses sabores se envolvessem com o protagonista dessa compota. Coloquei alguns tomatinhos e fui intersectando delicadamente com folhas de manjericão e alho. No final, completei com mais azeite até todos os ingredientes ficarem imersos. Fácil de fazer, mas um charme para servir seus amigos com uma cesta de pães e um belo vinho.

Tente fazer isso em casa. Abra um vinho ou tome alguns goles de uma cachaça que preste e aprecie a tonturinha ao lado de amigos queridos. É um grande prazer poder alimentar e ser alimentado, não apenas o corpo, mas a mente e a alma. É simples.

Trilha sonora: cd duplo da Nina Simone, Tell it like it is. Inexplicável.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pão de Açúcar fazendo feio



Dedinhos de chocolate podem ser irresistíveis em dias levemente frios. Você passa no mercado para pegar umas coisinhas e constrói a cena perfeita de um dia de preguiça. Sofá, cobertas, amiga querida, café e dedinhos de chocolate. Foi no Pão de Açúcar que encontramos os piores dedinhos de chocolate já fabricados pelo homem. Uma gororóba farelenta desprovida de sabor, digna de fazer os deuses vomitarem. Não é a primeira vez que decido comprar "delicinhas" produzidas por eles e tenho uma intragável surpresa. Outra vez, fui presenteado com uma beringela em conserva tão ácida, que dava a impressão de estar bebendo vinagre no bico da garrafa. Também teve a vez do abacate que comprei meio verde e que estragou antes de amadurecer. Dos caquis que jamais perderam o gosto amarrado de liga. Uma sucessão de pequenas tragédias que vão colocando a reputação do supermercado num carro sem freios na descida de um desfiladeiro.

Pela conveniência de ser o supermercado mais próximo da minha casa, peço que tenham mais atenção, cuidado pelos produtos oferecidos e respeito pelo dinheiro do consumidor. Mesmo me sentindo nobre nessas oportunidades de dar feedbacks e apoiar as reinvenções, também não tenho sangue de barata. Já estou na torcida pela revisão de alguns critérios.


sábado, 21 de março de 2009

Timm no E.A.T.

Recebi um email de um amigo falando sobre a semana dos restaurantes. Um evento bem interessante, principalmente, pra quem mora em São Paulo. Me empolguei com a notícia, mas acabei entrando em uma rotina nefasta de trabalho, que me impediu de pensar em uma maratona gastronômica digna de alguma honra.

Segunda de manhã, recebi um amigo escritor e redator da minha agência, André Timm, que me estimulou a dar um pé na bunda da rotina. Nessa de não deixar a vida passar, decidimos jantar em um lugar inédito para ambos. Sem grandes pretensões e na expectativa de aproveitar a promoção citada na internet, entramos no site e fizemos o primeiro filtro na busca de um restaurante de cozinha mediterrânea. Sem muito saco, acabamos optando pelo E.A.T. (detestei os pontos entre as letras), que promete uma “casual food”. Seja lá o que isso possa significar, decidimos encarar a bronca.

Chegamos em um ambiente contemporâneo e que ganhou nossa simpatia na hora. Pé direito alto, luz na medida certa, sem aperto de gente louca e sem noção. Gostamos.

Timm decidiu se encaixar no pacote da semana dos restaurantes e eu decidi fazer uma extravagância pra compensar dias sofridos de tropeços da vida. De entrada, ele encarou um carpaccio de abobrinha com amêndoas e, eu, polvo marinado no azeite com molho à base de limão, vinho branco, ceboulete, salsa, dill, mostarda de dijon e mais alguns ingredientes que o Chef Fernando Costa não se atreveu a revelar. Azar o nosso, pois foi a melhor pedida da noite. Seguimos a aventura acompanhados de moussaka de berinjela marinada, lâminas de batata e paleta de cordeiro moída. Uma lasanha para ignorantes, mas uma delícia pra gente sensível de paladar apurado. Além dessa beleza, linguini com camarões, aspargos in natura, vinho branco e ervas frescas. Um prato saboroso, mas menos expressivo que a moussaka do amigo Timm. Não sei se fui regado de algum tropeço na cozinha, mas senti uma leve desconexão entre discurso e realidade, no entanto, não me senti lesado pela experiência. Pra finalizar, bem-casado com sorvete e cheese-cake com calda de amora. Bom, bom, bom.

Diria que tive uma noite a ser levada a sério enquanto registro gastronômico do Da Boca Pra Dentro, ainda mais, depois de amaciar minhas percepções com um bom chardonnay que, apesar de novo, mandou bem na composição da noite.

Saímos de lá mergulhados no melhor papo pra um jantar de meio de semana, que representa a fuga de mentes cansadas e inquietas pela oportunidade de viver. O que posso dizer, é que não devemos, como diz meu amigo Timm, dar muita margem à procrastinação. Vamos tratar de aproveitar a vida, antes que o tempo passe.

E.A.T. Casual Food fica na rua Pedroso Alvarenga, 1026, no Itaim. Dá um pulo lá e aproveita o menu especial de carpaccios. Gostei da proposta.

domingo, 1 de março de 2009

Um mergulho com Vane

É incrível como a comida tomou um papel importante na minha vida, a ponto de me motivar da maneira mais genuína que se possa imaginar. Sábado de carnaval, encontrei um casal de amigas no mercado municipal de São Paulo. A Vane é uma grande amiga das antigas, filósofa, que estuda e defende a ética na alimentação, uma vegana convicta e lúcida nas suas atitudes e na busca de suas respostas. Decidi entrar na onda e me alimentar daquela atmosfera curiosa que se formou em torno dela. Passeamos pelos corredores coloridos de frutas, verduras, legumes, temperos, queijos, azeites de toda qualidade, castanhas de todos os tipos e gente experimentando esses sabores que preenchem todos os sentidos. Fiz umas comprinhas e descobri que o mercado municipal não tem nada de barato. Já tinha tempo que eu não pisava por lá, no entanto, não esperava que os preços estivessem beirando a falta de noção, como cobrar R$ 30 o quilo de caqui. Não dá, vamos combinar.

Tudo bem. Acabamos fazendo uma espécie de pique-nique numa das mesinhas do mercado, com alcachofras, cogumelos e alhos em conservas deliciosas, pasta de berinjela, pães finíssimos e crocantes e, para acompanhar, um suco de carambolas frescas pra lá de saboroso.
A Érica, namorada da Vane, precisava deixar alguns ingredientes em casa, então, saímos de carro pelo centro e ficamos dando voltas pra ver a cidade, que tava linda com a luz do final da tarde. Acabamos na Liberdade, andando pelas ruas e entrando naqueles mercadinhos cheios de tudo quanto é coisa que a gente não conhece. Tinha esquecido de como é bom mergulhar num mundo que não é seu e começar aprender com as dicas mal ditas pelas imigrantes de lá.

“Esse é tempelo. Calne, bom, bom na calne. E esse? Non non, esse não sel tempelo... Eu sei, mas o que é isso? Non é tempelo...”

A experiência em si é um barato. Você se diverte, descobre coisas novas, compra ingredientes bem mais em conta, dependendo em qual mercadinho entrar, e viaja nos costumes do povo de lá. Isso me rendeu uma sopa de cogumelos que comprei empacotada, daquelas embalagens de plástico com um monte de cogumelos desidratados, bolinhas e pedacinhos de plantas que você jamais viu na vida. Decidi fazer essa sopa para o jantar de segunda. Aquilo deve ter fervido por umas 3 ou 4 horas, mas os ditos cogumelos não amaciavam nunca! No fim, consegui um caldo saboroso, mas minha fome e falta de paciência em esperar mais, me fez mastigar os talos fibrosos de aparência demoníaca daqueles cogumelos. Sobrou, mas decidi não comer o resto, pra não tirar a mágica da “experiência única”.

Enfim, voltando pro eixo da história, acabamos no meu apartamento esperando a Érica chegar, abrimos um vinho e fiz uma vestimenta nela com um lençol - como aqueles saiotes amarrados dos indianos - e ficamos batendo papo e bebendo sem camisa. A Érica chegou e tomou um susto vendo a Vane sem camisa por trás da bancada. Parecia pelada. Aproveitamos e fizemos um belo ensaio de fotos, que estão servindo como base de algumas pinturas e desenhos que estou fazendo. Pra jantar, preparei um espaguete de abobrinha e cenoura (os legumes são cortados como espaguete, não tem massa essa receita) com shitakes tostados e molho à base de azeite e louro. Ficou bom, mas considero uma receita que precisa ser lapidada. De qualquer forma, caprichei na decoração, fazendo uma torrezinha circular com cogumelos inteiros e mini pimentas em conserva, dispostos em um belo prato branco quadrado. Bebemos duas garrafas de carmenére e deixamos a noite se tornar um registro da nossa juventude. Foi divertida, estimulante e profunda. Um daqueles encontros que jamais sai da memória.


As formas de Vane inspiraram a nova tela inacabada.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Carlota na minha sexta

Adoro terminar a semana com um bom jantar acompanhado de amigos. É o tipo de situação que me motiva de maneira a perceber a vida valendo a pena. Jonny, um amigo querido, e eu, estávamos um tanto deslocados com essa movimentação toda de carnaval. A cidade fica uma maravilha, no que diz respeito ao trânsito e uma merda, no que diz respeito à pessoas, porque grande parte dos amigos acabam praticando o exôdo urbano nos feriadões.

Na última sexta, uma dica me encheu de entusiasmo me colocando de frente com o restaurante Carlota, um lugar pra lá de agradável, numa casa estilozíssima que eu sonharia morar. Parte do jantar serviu para imaginar minhas telas, minha parafernália artística e minha vida lá dentro, envolvidas pela atmosfera dourada insubstituível do lugar. Sempre digo, a luz é essencial na composição de qualquer ambiente. E eles acertaram por lá. Gostei mesmo.

A comida foi uma boa surpresa, pedi um linguado grelhado servido com molho cremoso de limão siciliano, cogumelos sauté e purê de batatas. Suave, bem executado e delicioso. Jonny pediu um gnocchi de ricota com ervas e azeite de trufas em leito de cogumelos e rúcula. Um prato delicado e saboroso, que eu me atreveria em indicar como uma saída sofisticada para jantares de verão, mesmo vivendo o fim dos dias quentes.

De sobremesa, soufflê de goiabada com calda de catupiri. Me pareceu estranho o catupiri no meio daquela descrição. Sendo bem sincero, o fato de eu ter certo preconceito com catupiri me fez olhar praquele prato com alguma desconfiança, no entanto, fiquei tomado pela curiosidade de ver qual era a proposta daquela combinação. Sem dúvidas, uma remasterização bem-sucedida do bom e velho Romeu e Julieta. Segundo os garçons, é um clássico que nasceu com a Carlota.

Ao meio de papos e tônicas, caímos na real de que, mesmo com a crise e todas as picuínhas da nossa rotina, não podemos deixar de viver esse tipo de experiência, que estimula, conforta e compensa qualquer coisa que pode nos chatear. Pode não ser um salvamento, mas se trata de uma boa bóia.




















Um experimento: narrativa de comida e grafismos pra acompanhar. Decidi colocar a mão na massa e fazer diferente hoje.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Bahia: fiascos e glória no mesmo barco

Saí de São Paulo com uma bela garrafa de azeite extra virgem na mochila, empolgado pelos pratos que poderia preparar na Bahia. Lagostas saindo da água direto pra panela, fartura de peixes, legumes e verduras, frutas, leite de côco, temperos desconhecidos... tava seduzido pelo oceano de possibilidades que surgiam a cada segundo na minha cabeça. Fiz promessas, envolvi amigos e fui sabotado pela míngua baiana. Cheguei em Moreré e tratei de ir direto aos mercadinhos locais pra ver o que encontrava e fui recebido por tomates detonados, cebolas velhas, pimentões murchos e prateleiras de comida processada e empacotados de salgadinho e porcarias da pior qualidade. A depressão caiu como uma pedra na minha cabeça. Cheguei na cabana onde eu e meus amigos ficamos instalados arrastando as chinelas de tristeza.

Conversando com a dona da aldeia onde ficamos, entendi que havia uma cumplicidade "admirável" entre os moradores, que trataram de vender ingredientes bons apenas para os restaurantes, para que se criasse um ciclo de consumo que ajudaria a todos os cidadãos locais. Depois de muitos dias esperando cerca de 2 horas por refeição, acabamos descobrindo uma maneira de "burlar" a regra que nos impedia de fazer qualquer coisa mais elaborada que sanduíches quentes e omeletes. Algumas garotas faziam a limpeza diária de todas as cabanas da aldeia e foram elas, moradoras locais, que acabaram salvando a pátria.

Naquele momento, uma luz pairou sobre nós e voltamos a sonhar com um grande jantar de final de ano. Conversamos com uma das meninas e chegamos num acordo pra que ela fosse até a cidade vizinha e conseguisse alguns ingredientes pra gente. Passamos um tempo na praia e, quando voltamos, um grande peixe cavala nos esperava acompanhado de salsa, cebolinha, tomates decentes, cebolas novas, batatas, ostras e mais uma sacolada de outros ingredientes. Quase caímos de joelhos em prantos com os braços pro céu. O sentimento era de gra-ti-dão!

Então, Bam-bam (grande amigo escudeiro da cozinha) e eu, tratamos de começar toda a função do jantar. Ele se responsabilizou pela moqueca de ostras, acompanhada de bananas da terra, pirão e arroz (foi isso mesmo, hermano? Me ajuda, pois a bebida me roubou a lembrança...), enquanto eu tratei de enfrentar o peixe e os legumes. Não tinha muita idéia de como preparar, pois não havia uma infra-estrutura que permitisse um mundo de possibilidades, o que me fez preparar o primeiro peixe assado na brasa, envolto de folha de bananeira e acomodado sobre telhas no fogo.

Fiz alguns cortes na pele do peixe e temperei com muito alho - eu disse muuuito alho -, salsa, cebolinha picada, sal grosso, pimenta e uma chuva de saquê. Deixei o peixe marinando durante um bom tempo e, enquanto isso, preparei duas formas cheias de legumes cortados à grosso modo, regados de muito azeite extra-virgem e sal grosso. Eram batatas, pimentões e cebolas em harmonia no meio de uma estética nada boa. Mais tarde, ao entardecer, fiz o fogo a meu modo (leia-se: sem técnica nenhuma) e coloquei o peixe envelopado nas folhas de bananeira sobre as telhas pra assar. Já os legumes, seguiram um caminho pouco seguro rumo ao forno precário do fogão da cabana.

No fim das contas, em meio a bebedeiras, fumaças das mais variadas espécies (lembrem, havia fogo lá!) e risadas altas, acabamos nos deparando com um jantar delicioso, cheio de gente boa reunida em torno de uma mesa bem decorada com folhas de bananeira, castiçais improvisados e flores. Digno de um orixá! Terminamos o jantar já bem altos e fomos rumo à praia onde ia rolar a festa de ano novo. Passamos a virada no meio do caminho, à beira-mar, abaixo do céu mais maravilhoso que qualquer astronauta possa imaginar. Quando chegamos na festa, tratei de ir logo ao bar. Algo me dizia que eu não duraria muito tempo. Dito e feito. Tava tão cansado de preparar a comida, correr atrás de telhas e tudo mais, que entortei a caneca e, em menos de duas horas, tava dormindo debaixo de uma árvore em meio à uma multidão de gente louca e animada.

Acordei descabelado com a ajuda de amigos, que também não estavam no seu melhor estado. "Xiiiii, hora de voltar pra casa, mais duas praias pela frente pra andar...". Deus me deu um peteleco na orelha ou não sei, mas fui tomado por uma energia arrebatadora, que me fez ir até em casa chutando água, dançando pro mar, saltitando e virando piada da multidão que seguia acabada pra casa. Terminei o evento com meia dúzia de lembranças, uma contusão no pé de ter chutado um monte de areia e muita risada das histórias que surgiram na roda de amigos que se formou logo em seguida que todo mundo acordou. Foi um amontoado de pequenos desastres, mas que resultou em um final de ano pra lá de bom! O que me fez acreditar ainda mais que o imperfeito é o melhor ingrediente pra se viver algo inesquecível.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Gafe e nudismo no Sofitel Salvador

Fim de ano e nenhum quarto de hotel com preço acessível disponível. Me obriguei a fazer uma reserva e passar a noite nesse dito hotel. Meio caro, mas bacana. Cheguei tarde, vôo atrasado. Fiz o check-in, deixei as malas no quarto e desci correndo para o restaurante, pois estava há cinco minutos de fechar. Tudo bem, sacanagem com o pessoal da cozinha, mas eu precisava comer. Decidi me dar uma noite especial e pedi uma taça de espumante e lagostas grelhadas com mousseline de banana da terra. Enquanto meu prato não chegava, fui dar uma olhada na piscina. Era uma bela piscina. Fiquei com aquilo na cabeça.

A lagosta chegou, mas frita e amarga acompanhada da apatia da mousseline mal preparada. Pedi a segunda taça, dei duas garfadas, chamei o garçon e devolvi o prato com um discurso sincero a ponto do chef ser chamado para falar comigo sobre o preparo. Eles foram gentis e me ofereceram outro prato, porém, meu apetite já havia desaparecido e eu montava na vontade de dar uma nadada naquela piscina.

Voltei para o quarto, coloquei a sunga e andei semi nú pelo hotel lá pela 1h e tanto da matina. Cheguei na piscina e todas as luzes desligadas. Um breu! Não dava pra ver nada. Não tive coragem de nadar naquela escuridão, me bateu um cagaço e fui pedir para que um funcionário do hotel acendesse alguma luz pra mim.

_ Não dá, senhor.
_ Por que não?
_ Hum... eu já ligo pro senhor.
_ Obrigado.

Um neon azul no fundo da piscina se acendeu e ao me ver sozinho por lá, arranquei toda a roupa e pulei pelado na água. Explorei toda a piscina e fiquei relaxando na água, levando um tempo pra me dar conta que nadava de frente para uma série de janelas. Nadei mais um pouco, saí e me espreguicei antes de me secar. Voltei pro quarto dando risada pela possível platéia do meu espetáculo aquático.





Sem pilhas, fui obrigado a buscar uma imagem da dita piscina na internet. Sim, foram nessas águas que expus minha nudez ao cosmos. Uhú!


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mastigadas na Bahia

Há um tempo atrás, alguns amigos e eu decidimos passar a virada do ano na Bahia. Não sabíamos exatamente onde, então, compramos passagens para Salvador com bastante antecedência e ficamos num pingue-pongue de emails até escolher Moreré como destino das férias de verão.

Embarquei dois dias depois da turma para encontrar sete amigos nas cabanas que alugamos no meio de uma “aldeia” bastante peculiar. Roots de verdade, mas com uma biblioteca super interessante no meio daquela mata à beira-mar. Na mala, duas garrafas de espumante e outra de azeite de oliva extra virgem para garantir a boa comida, além de livros, cadernos e canetas de todos os tipos.

Essa viagem me colocou de frente com novos sabores e tornou a comida um ritual de paciência, diversão e pileques vespertinos. Siriguela seria um xingão se eu não tivesse provado essa fruta por lá, do mesmo jeito que me surpreendi com o sabor dos sorvetes caseiros de mangaba, banana e cajú da pousada do suíço, sem contar o vinagrete de polvo super tenro e os acarajés das baianas tranqüilas na beira da praia.

Foi tão divertido que me rendeu histórias que serão tema das próximas postagens.

Junte seu povo, façam comida juntos, viajem, bebam seus drinks, olhe pro lado e puxe assunto, descubra o que você tem em comum com o mundo e não tem outro jeito senão vivendo. Resumindo, arrume história pra contar. É o tipo de coisa que te marca pra sempre.